quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Cerâmica


Moringa em cerâmica branca e terracota. Amanda Branco




















Depois de um tempo trabalhando com fotografia artesanal e pintura corporal, decidi incluir outro elemento em minha pesquisa para o doutorado: a cerâmica.
Como tinha pouca experiência com esse material, no ano passado participei da oficina de cerâmica da EMIA, com o prof. Fábio, que aliás foi muito bacana, e tem uma ótima experiência artística para compartilhar com os participantes! O meu intuito ao participar da oficina era experimentar e sentir um pouco a técnica, antes de levar adiante o projeto do doutorado.

Mas o que a cerâmica tem a ver com a minha produção, geralmente bidimensional e focada na fotografia artesanal? Por se tratar de um fazer artesanal, a cerâmica pode ter aspecto irregular, pelo menos quando não se usa um molde. Pode trazer a marca da gestualidade impressa na matéria pela modelagem manual, dos dedos, ou com instrumentos, estecas, assim como a fotografia artesanal traz as marcas do gesto com pincel. De certa forma, são atividades que nos ajudam a nos conectar com o corpo. E isso contribui para uma conexão com o momento presente. Pelo menos para mim, como iniciante na cerâmica, não era possível fazer uma peça pensando em outra coisa.
Uma colega estava participando dessa oficina por recomendação médica, por ela ser muito agitada. Acredito que essa necessidade de presença é um dos motivos de o trabalho em cerâmica ser terapêutico.
Outro fator de aproximação: assim como a fotografia artesanal, a cerâmica também parece ter vontade própria, trazendo certa imprevisibilidade ao resultado. Os ceramistas mais experientes vão aprendendo a dominar melhor a matéria e a diminuir as surpresas, mas elas continuam acontecendo ocasionalmente. Dizem que o ceramista está sempre aprendendo, pois trata-se de uma arte com muitas possibilidades técnicas. 
Por fim, também penso que as duas práticas, cerâmica e fotografia artesanal, estão relacionadas ao antigo, ancestral: a cerâmica é uma das mais antigas formas de arte da humanidade, e a fotografia artesanal remonta aos primórdios da fotografia.


Peças para colares, em cerâmica branca e terracota. Amanda Branco

Nesse período de experimentação da cerâmica, me interessei bastante pela técnica do esgrafito, uma forma de desenhar com a própria argila. Provavelmente pela atração que sinto pelos grafismos e desenhos! Para realizar o esgrafito, modelamos a peça com argila de uma cor e então pintamos a superfície com argila de uma cor diferente. Então raspamos com um estilete, palito ou algo semelhante, para deixar visível a cor da argila de baixo.
Com essa técnica decorei a moringa, toda feita a mão (sem torno, por isso com superfície bem irregular!), com cerâmica branca e terracota. Também fiz as peças de serpente e peixe, que vão virar colares assim que eu encontrar um bom cordão para eles. E os quadros de rosa e girassol. Nesse último eu também fiz uma pintura a frio (depois da queima), com tinta acrílica.

Acredito que esse momento de sentir o trabalho em cerâmica foi bem importante, agora tenho um pouco mais de experiência para desenvolver meu trabalho. Vou publicar algumas coisas conforme a pesquisa for avançando.


Quadro Rosa, em cerâmica branca e terracota. Amanda Branco


Quadro Girassol, em cerâmica branca, terracota e tinta acrílica. Amanda Branco


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Recomeço e Oficina de Goma Bicromatada

Enfim começamos 2020! Seguimos resistindo na produção de arte e cultura!
Como você pode ver, em 2019 não consegui manter o blog ativo. Muita coisa aconteceu, foi um ano rico e também desafiador, com o início do doutorado na UNESP, as oficinas e o ingresso na docência do ensino superior. Este ano pretendo escrever mais, ainda que não seja toda semana. É importante continuar compartilhando esse conteúdo! Tenho recebido alguns feedbacks legais de pessoas interessadas nos processos fotográficos históricos, e além disso escrever aqui estimula a minha própria produção artística. Todo mundo ganha ☺

E pra começar, uma boa notícia: teremos curso de Goma Bicromatada na Oficina Cultural Oswald de Andrade! As atividades das Oficinas Culturais são gratuitas. Vamos valorizar este espaço de produção e divulgação cultural!
Confira aqui.

OFICINA: INICIAÇÃO À FOTOGRAFIA ARTESANAL – GOMA BICROMATADA
Coordenação: Amanda Branco
03/03 a 14/04 – terças-feiras - 14h às 17h30
Público: Estudantes, artistas visuais, fotógrafos e interessados em geral.
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo/SP
Inscrições: até 26/02 - 12 vagas
Seleção: Carta de interesse



Anturio, Amanda Branco. Goma bicromatada sobre papel

Para relembrar, a goma bicromatada é um processo fotográfico histórico que utiliza pigmentos, geralmente de aquarela. Pode produzir imagens com uma ou mais cores. É uma técnica que aceita uma intervenção direta na imagem, criando aproximação com a pintura e a gravura. Escrevi mais sobre o processo aqui.
Durante a oficina iremos preparar nossos próprios papéis fotográficos para realizar fotogramas (fotografia sem câmera) e fotografias a partir de imagens digitais, reveladas em uma cor e em duas ou mais cores. Também poderemos experimentar o tecido como suporte alternativo ao papel.

Venha, aproveite essa oportunidade para uma experiência de fotografia de ateliê!

Estudo, Amanda Branco. Goma bicromatada sobre papel

Estudo, Amanda Branco. Goma bicromatada sobre papel



quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Curso de Fotografia Artesanal: Goma Bicromatada

Animus I, Amanda Branco. Goma bicromatada e cianótipo sobre papel.




















A goma bicromatada é uma técnica que foi desenvolvida no século XIX, antes da industrialização da fotografia. Utiliza pigmentos, geralmente aquarela, podendo criar imagens monocromáticas ou policromática. A proximidade com a pintura e a gravura tornou a técnica atrativa para os fotógrafos do Pictorialismo. Foi bastante usada por Robert Demachy e Edward Steichen. 

Hoje é utilizada por artistas e fotógrafos que buscam explorar o potencial plástico do meio, muito aberto a intervenções, recortes, fotomontagens... Os resultados variam bastante dependendo do papel utilizado, do tempo de exposição, da concentração do pigmento, da forma de aplicação da emulsão, do tempo de revelação, entre outras. Confira o trabalho primoroso da série Alegorias Brasileiras, de Luiz Monforte, para ter uma idéia das possibilidades da técnica!
O curso que faremos na Oficina Cultural Oswald de Andrade tem como objetivo permitir que os participantes conheçam e explorem algumas possibilidades da técnica. Ao longo dos encontros, vamos preparar os papéis fotográficos e realizar fotogramas (fotografia sem câmera); e fotografias a partir de negativo (feitos com imagens digitais), reveladas em uma cor e a três cores. Também poderá ser usado o tecido como suporte alternativo ao papel, trazendo novas possibilidades e leituras à imagem fotográfica.

Será uma oportunidade de renovar a sua visão sobre a produção fotográfica através de uma técnica antiga e artesanal!

Estudo, Amanda Branco. Goma bicromatada sobre papel.


Animus II e os três negativos utilizados. Goma Bicromatada e cianótipo
 sobre papel
































Fotografia em processo da Luanda Moraes - goma bicromatada a três cores.



















OFICINA DE FOTOGRAFIA ARTESANAL: GOMA BICROMATADA
Coordenação: Amanda Branco
10/10 a 28/11 – quarta(s)-feira(s) - 14h às 17h
Público: Estudantes, artistas visuais, fotógrafos e interessados em geral.
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo/SP
Inscrições: até 3/10 - 12 vagas
Seleção: Carta de interesse

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Clichê Verre - primeiros experimentos


Precisei dar um tempo no blog, e agora estou de volta. Consegui resolver outras coisas como o tão esperado (por mim pelo menos!) site oficial. Se você ainda não viu, pára tudo e vai lá: 
Agora vou compartilhar os primeiros experimentos que realizei com clichê verre. O clichê verre é uma técnica híbrida que nasce do encontro da fotografia com a gravura. A matriz é feita com uma chapa de vidro (também pode ser de acrílico ou acetato), que será pintada com tinta preta. Posteriormente o desenho será gravado nela, riscando-se a tinta com uma ponta seca.

Eu achava que seria mais complicado, pois havia visto no livro Fotografia Pensante a recomendação de usar tintas de gravura. Mas recentemente a artista e gravurista Néia Martins (confira a beleza do trabalho dela aqui: https://www.instagram.com/neiavancatarina/) me deu a dica de que é possível fazer com nanquim, material que eu já tinha em casa, o que tornou o processo bem simples. 

Então esses foram os procedimentos: apliquei uma camada de nanquim em uma chapa de vidro. Primeiro tentei com nanquim escolar da marca Acrilex, e não deu funcionou muito bem. A cobertura ficou ruim e fiz uma segunda camada, que ficou ainda bem irregular, e algumas áreas simplesmente não secavam, a tinta não aderiu bem ao vidro. 

Então usei um nanquim profissional, da marca Talens. A chapa não parecia muito uniforme e eu tentei aplicar uma segunda camada, mas logo percebi que não ia dar certo pois estava estragando a camada de baixo. Então trabalhei com apenas uma camada mesmo.
Preparo da matriz para gravação.

Com o nanquim escolar: pouca aderência



































O plano era fazer um desenho com algum lápis que aparecesse sobre o fundo preto, e depois gravar usando uma ponta metálica. Eu não tenho a ponta seca específica para gravura em metal, então procurei alternativas. Usei um lápis sépia para desenhar e para minha surpresa, aplicando alguma pressão ele arranhou o naquim, produzindo incisões com traços grossos. Para detalhes finos usei uma ponta de compasso, que funcionou muito bem, produzindo um traço bem mais fluido que o lápis. 
Um detalhe importante: se você for trabalhar com chapa de vidro, eu recomendo espelhar o desenho antes de gravar. Assim, na hora de expor à luz o lado da gravação pode ficar para baixo, garantindo que esteja em contato com o papel. Se o lado da gravação ficar para cima, há o risco de perder nitidez devido à espessura do vidro. 

Gravando com um lápis!

Detalhe da chapa gravada































Com a chapa pronta, era hora de fazer os testes. Revelei usando cianótipo sobre papel e sobre tecido. Eu pensava que no tecido os detalhes mais finos poderiam se perder, mas curiosamente eles ficaram mais marcadas do que no papel, produzindo um desenho mais contratado. Porém os dois resultados ficaram satisfatórios. Considerando que eu já tinha os químicos de cianótipo, o processo se mostrou uma gravura a um custo bem baixo, além de ser  muito fácil reutilizar as chapas: basta lavar com água (portanto, se não quiser estragar a matriz gravada, não deixe molhar!). A técnica pareceu bem promissora, e já vejo possibilidades de unir os desenhos em vidro com negativos fotográficos ou fotogramas! Mais possibilidades criativas surgindo!
Revelação em cianótipo sobre papel
Revelação em cianótipo sobre algodão




segunda-feira, 14 de maio de 2018

Negativos de papel vegetal

Continuando a minha pesquisa com negativos de papel, fui inspirada pelo trabalho da artista Andréa Brächer a testar uma técnica bem simples: o negativo de papel vegetal.
Brächer explorou belamente esta técnica em algumas de suas séries fotográficas que abordam o imaginário infantil. Vale conferir Fairies e Hauted House.

Para fazer esses negativos, simplesmente imprimi em papel vegetal as imagens negativas, usando minha impressora jato de tinta. A princípio já dá para ver que o material é mais transparente que o papel encerado, além de mais fácil de fazer. Escolhi propositalmente duas imagens com pouco contraste, para sentir a dificuldade de revelar com este tipo de negativo.

À esquerda, negativos de papel encerado. À direita, de papel vegetal.


















Os testes que fiz usando cianótipo foram  promissores! Não costumo fazer tira de testes com frequência por trabalhar com luz natural, que é muito variável, mas às vezes o teste ajuda mesmo assim. Para começar a usar esse tipo de negativo, achei importante fazer a tira de testes - na verdade, foi a imagem inteira.

"Tira" de testes

A imagem aparece com listras verticais, mostrando que cada coluna desta foi exposta com um tempo diferente. Fiz as exposições com intervalos de 5 minutos, então a coluna mais clara ficou cinco minutos no sol e a mais escura ficou 25 minutos. Aí cabe ao fotógrafo/ artista decidir qual foi o tempo de exposição que apresentou um resultado mais interessante. Eu fiquei na dúvida entre os 10 e 15 e acabei optando por 10 minutos para não escurecer demais o céu. Poderia ter escolhido também um meio termo, 12 ou 13 minutos.
Então, com 10 minutos de exposição, consegui estas imagens:





Como você pode ver, as imagens têm baixo contraste e não são tão nítidas. Mas isso pode ser diferente usando imagens mais contrastadas.
O negativo ficou com ondulaçoes por ficar muito tempo no sol, o que ocasionou marcas verticais na imagem da paisagem rural. Então percebemos que ser negativo não é tão resistente mas é propício para intervenções.
A paisagem urbana ficou um pouco mais clara, até parece transparente e imaterial. Dá a impressão de ser uma imagem bem mais antiga do que é, como uma memória que está se apagando. Novamente o resultado é interessante, dependendo do que se busca.

Também realizei testes com goma bicromatada, mas este processo continua sofrível! A da direita foi feita em um papel impermeabilizado, e a goma descolou quase completamente. E nas outras o resultado não é muito melhor... Vai ficando  evidente que para fazer a goma é necessário um negativo com mais contraste. Ainda existe a possibilidade de testar o negativo de papel vegetal com uma imagem mais contrastada, mas esse experimento é algo para outro dia.















Para o cianótipo, porém, o negativo de papel se mostra uma alternativa simples e barata com resultados satisfatórios. Vou incorporar este tipo de negativo em meus trabalhos! 

terça-feira, 17 de abril de 2018

Negativo de Papel Encerado - Primeiros experimentos

Olá pessoal!
Algumas semanas atrás postei no Instagram o negativo de papel que eu estava preparando, e hoje quero mostrar os primeiros experimentos que realizei com esse tipo de negativo.
O negativo de papel é uma forma de baratear o processo fotográfico. As imagens produzidas assim têm como características serem menos nítidas, pois incorporam a textura do papel em que foi feito o negativo, e podem apresentar um contraste menor também.
Pode ser uma boa opção se você quer incorporar esses aspectos no seu trabalho.

Meus negativos em papel encerado.



















O preparo do negativo com vaselina.



















Preparei os negativos de papel da seguinte forma: imprimi a imagem negativa em papel sulfite com uma impressora jato de tinta. Com a imagem seca, apliquei vaselina líquida no verso do papel e esfreguei com uma toalha de papel - isso deixa o papel transparente. Passei o papel toalha até não restar nenhum resíduo de brilho no negativo. Depois deixei esse negativo entre duas folhas de papel toalha com um livro em cima para fazer peso por uns 30 minutos, para retirar qualquer excesso da vaselina.
A minha impressora não tem uma qualidade muito boa, outra impressora poderia fazer um negativo mais nítido.
De qualquer forma quis fazer o teste. Imprimi 3 fotos em negativo, duas paisagens e uma miniatura de uma das imagens da série Religare. Esta última era a única que estava bem contrastada; as duas paisagens não tinham muita variação de tons, e isso deve ter dificultado o processo.

Primeiro fiz testes usando goma bicromatada, e nenhuma ficou boa; não conseguia abrir as luzes. As imagens provavelmente ficaram superexpostas. Com bastante esforço, passando a esponja no papel molhado, as luzes abriram só um pouco. A imagem que apareceu um pouquinho mais foi a miniatura da série Religare, acredito que devido ao contraste mas definido. Em outro momento quero tentar de novo, talvez com uma encolagem no papel. Mas isso será assunto para outro post.

Tentativas de revelar em goma Bicromatada... 
Sofrência! :p


















Depois fiz um teste com cianótipo. A primeira imagem ficou subexposta. Estava um pouco complicado definir o tempo de exposição nesse dia, pois havia sol com algumas nuvens, o que causava variações na luz natural ao longo do processo. Fiz uma nova tentativa, com exposição três vezes mais longa, e finalmente consegui uma imagem bem exposta!

Primeira tentativa em cianotipo: 
Imagem subexposta.
Segundo tentativa em cianotipo,  a imagem ficou 
bem exposta :D

Gostei bastante desse resultado! A baixa nitidez cria uma atmosfera que pode acrescentar em  alguns trabalhos. Vou compartilhar aqui quando tiver mais experimentos com negativos de papel.

Se você se interessou pela técnica, veja mais sobre o negativo de papel aqui.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Curso: Cianotipia e Goma Bicromata

Fotografia revelada em cianótipo com negativo 
digital.



















Olá pessoal !

Já publiquei nas redes sociais, mas anuncio aqui também:
Estão abertas as inscrições para o curso de fotografia artesanal que farei na Oficina Cultural Oswald de Andrade.

A fotografia artesanal compreende os processos fotográficos históricos do século XIX, e atualmente esses processos são utilizados por artistas e fotógrafos que buscam explorar o potencial plástico de uma fotografia menos comprometida com a documentação da realidade, abrindo-se para possibilidades criativas.

Trata-se de um sistema aberto a intervenções, que possibilita o uso criativo do meio. No curso, vamos preparar nossos próprios papéis fotográficos, trazer imagens digitais para produzir os negativos, e também faremos a revelação das imagens.

Ao longo dos encontros, serão desenvolvidos exercícios com fotograma (fotografia sem câmera), revelação de negativo monocromático em cianótipo usando papel e tecido, viragem de chá preto, revelação de imagem em goma bicromatada monocrática e a 3 cores.

Fotografia revelada em cianótipo com viragem de
chá preto.













Fotografia revelada em goma bicromatada
com três cores, e os negativos utilizados.
























Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade. Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo.
Data e Horário: 5/4 a 24/5 – quinta(s)-feira(s) - 14h às 16h

Faça a sua inscrição nesse link.